Sei que deve estar pensando que sou uma louca de pedra e que há dois meses atrás eu não tinha esse discurso.
Que eu não estou parecendo a guria que tu conheceu e que devo ter perdido a meiguice em alguma balada, alguma dessas que não lembro bem.
Sei também que deve estar me amaldiçoando mentalmente e desejando que eu morra engasgada com essas palavras desalmadas.
Mas ó, cá entre nós, eu nunca lhe jurei amor eterno – Deus me livre- e nem amor nenhum.
Nunca prometi que ficaria pra sempre, até semana que vem ou mês que vem, quem sabe.
Sempre justifiquei pra quem quisesse ouvir que se fosse pra eu gostar de alguém, gostaria era de mim. E só.
Sabe aqueles papos de que o problema não está em você e sim em mim? Pois bem, nesse caso o problema é você e essa sua mania de gostar de mim. Eu nem pedi, pedi?
Sinto muito, mas não quero mais sair contigo e nem aguento mais esse bando de mimimis que você teima em me apresentar. Sinto muito, mas não vai adiantar.
Não gosto que me ligue, em todos os dias e desesperadamente como se o mundo fosse acabar amanhã – olha que até não é má ideia se fosse pra não ver mais essa sua cara – ele não vai.
Sinto-me sufocada com esse bando de convites, me sinto invadida por esses abraços calorosos enquanto eu mal posso esperar a hora de ir embora.
Ah, também não gosto quando fala que gosta de mim e eu não posso responder nada além de “obrigada, qualquer coisa te aviso”.
Por favor, não me procure em todos os lugares que frequento.
Ando tão despreocupada que posso lhe magoar, lhe deixar falando sozinho ou até mesmo lhe dar um murro, só pra mostrar o quanto eu queria que existisse algo entre nós – um lago com 500 crocodilos famintos – daqui pra frente.
As coisas seriam mais fáceis se você se importasse menos comigo.
As coisas seriam mais fáceis se a gente pudesse voltar a aquela festa quando nos conhecemos – em que eu teria ficado em casa dormindo – naquela noite bem mais ou menos.
Eu só não aconselho que gostem de mim, desculpe não ter lhe enviado meu currículo antes.
Eu sei que não ficaria de bom grado lhe falar todas essas coisas brutas e reais. A verdade sempre é a melhor saída, mas não lançada através de uma tombadeira desgovernada. Eu sei.
Mas que culpa eu tenho dessa necessidade do desprendido que levo estampada na testa?
Não pense que não tenho coração, pelo contrário, ele é tipo coração de mãe, onde sempre cabe mais um, outro, mais um. E não nego que isso às vezes me incomoda.
É claro que também quero que algum dia alguém goste de mim – talvez menos meloso – do jeito que você gosta. Mas um dia não é hoje. Hoje eu nem quero ser especial.
Fechei a porta, não respondi as mensagens, não atendi as ligações. Depois de um tempo – longo tempo daquele Brasileiro do caramba – ele entendeu. Aleluia!
Então, foi assim que eu terminei aquele pré-relacionamento e me livrei de um p#%!!’.& peso nas costas.
Não nego que sofri um pouco, não por gostar dele, eu não gostava dele.
Mas me cortava o coração ter que deixar aquele cara fofo – deveria ser fofo pra alguém, né? – gostar sozinho e ainda ter o coração moído naquela máquina de carne moída, sabe?
Mas com o tempo, a gente acaba cansando de certas coisas. E ele? Acabou por ser premiado com meu primeiro – mentira – ataque de excesso de verdades.
Não foi por mal, mas a gente acaba querendo ser de verdade, do jeito que for.
A gente percebe que passou grande parte da vida sendo o que queriam que fossemos, deixando pra trás o que realmente somos por medo de magoar alguém.
Quantos relacionamentos existem por aqui – e a colega do seu lado? – só por comodidade, medo ou o pior, por pena da pobre criatura, que será deixada largada e desiludida – pela décima e não última – mais uma vez?
Posso até perder as contas.
Mas desde quando essas pessoas pararam de sorrir? Onde elas deixaram aquele brilho que elas tinham no olhar? Você gostaria de ser uma delas?
Eu não.
Nunca quis magoar alguém, muito menos aquele cara quase perfeito – chegava a ser irritante – que passou pela minha vida – como um cometa lento – naqueles últimos tempos.
Mas minha vó sempre disse algumas coisas sobre falar a verdade e desde pequena venho causando choros incontroláveis dos coleguinhas por ser sincera em excesso.Nunca pergunte se está gorda – se realmente está -, ok?
Eu não o queria. Era isso.
Dei o recado, ganhei um inimigo e certamente algumas galinhas pretas na esquina de casa.
Acontece.
Mas eu nunca me perdoaria se me deixasse fazer parte daquela quantidade de gente sem sorrisos, presas em relacionamentos por comodidade. Por ter que viver de mentiras por medo de magoar alguém e acabar matando aos poucos aquele brilho nos olhos – azuis – que levo comigo.
Sinto muito por não ser especial. Sinto por – agora – fazer parte da lista negra dele. Sorte que preto emagrece!