sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sobre te esquecer


Juro que dessa vez eu tentei.

Desculpe, meu amor, sei que prometi lhe esquecer, mas aqui estou eu, mais uma manhã de domingo, pedindo desculpas pelos áudios que lhe enviei ontem a noite, desculpe. Eu havia lhe esquecido até ontem.

Novamente estou aqui - feito um cão arrependido -, pedindo que esqueça aquelas palavras mal ditas - aquela voz esganiçada e aquele soluço entre as palavras - em meio aquela música ruim e alta, ainda mais aqueles pedidos de "volta pra mim", "você é minha vida" e sobre "pegar o primeiro avião com destino a felicidade", desculpe. Fico fora de mim quando bebo, você sabe.

Ok, também mandei whats desenfreadamente - aqueles corações eram de verdade, mas aquela arminha e a faca foi sem querer -, mas é sempre assim, quando a bebida entra eu volto a sentir saudade.

Na verdade, acabo por encontrar a coragem pra falar da saudade, que eu nunca deixei de ter. Confesso.

Não deu, é mais forte que uma crise de abstinência, eu consigo viver sem coca-cola, sem sushi, eu consigo viver até sem maquiagem - ai, não, espera -, mas com essa saudade, impossível.

Já lhe esqueci por um mês, consegui finalmente ficar um mês sem lhe procurar, juro que não abri por muitas vezes a nossa foto - que ainda está naquela pasta "felicidade", ai que brega - e nem reli tantas vezes assim nossa ultima conversa no whats app - aquela que você disse que também sentia saudade, que lindo! - que se resumiam em "oi que saudade", "eu também", "como tu está?" e "quando vem me ver?"

Sei que todas elas terminavam em um "vamos marcar" que nunca aconteceu.

Mas espere aí, você já viu a insignificância de um vamos marcar? Sempre propomos nos ver, com amigos, parentes, afilhados, amores, sempre um vamos marcar, daqueles que nunca acontece. Me fala hora e lugar, me fala o dia, mas não diga que "vamos marcar" algo que não vamos. Isso é covardia. E não falo só de nós. O "vamos marcar" deveria ser excluído do vocabulário, quem fala "vamos marcar" não merece ser amado.

Em todas as vezes, mais um "vamos marcar" na nossa conta, por medo, covardia, desinteresse, a gente foi esquecendo a cada dia um pouquinho, e assim a gente foi desistindo. Como é que alguém desiste do amor, heim?

Nessas e outras, aquele vamos marcar seguido de "então me esquece", que doeu mais do que o dedo mindinho trombando com a quina do bidê.

Então me esquece? Quem é que fala isso para alguém que ama?

O então me esquece, é como um "duvido que me esqueça", é como um "sei que você não consegue me esquecer", o então me esquece fere o orgulho de qualquer um, é como aquele empurrãozinho que faz com que você tente até com reza braba conseguir aquilo que "achavam" que você não conseguiria. Já contei que odeio que duvidem de mim?

Então eu esqueci. Esqueci mesmo. Afinal, aquilo foi uma afronta.

Esqueci por um bom tempo, por um tempo razoável mandei mensagens destinadas a você diretamente as minhas amigas, coitadas, quase pensaram em mudar de opção sexual com tantos "que saudade" que receberam, quase as convenci.

Liguei a elas nas madrugadas falando de você, usando daqueles ouvidos que mais pareciam penicos pra ouvir tanta merda em uma ligação só. Esqueci, como prometido. Que sorte a minha.

Esquecer, como se esquecer fosse eterno. Quem disse? Alguém aqui prometeu que esqueceria para sempre?

A gente pode até esquecer por um tempo, mas esquecer é temporário.

Em um dia qualquer, em meio a uma bebida e outra, você vai lembrar que esqueceu e vai voltar para buscar, isso acontece com as chaves, com o chinelo, com a camiseta velha, as escovas de dentes e o pijama, isso acontece com o amor.

Foi assim que lembrei. Não deu, te esquecer é complexo demais.

Falando nisso, esqueci aquele casaco na sua casa, daquela última vez em que estive por aí, eu havia esquecido dele, mas ontem fez um frio. Tudo bem ia até aí para buscar?

Se ele não estiver mais por aí, tudo bem, tem outra coisa que esqueci e que queria levar, isso se você ainda quiser vir comigo.