Sabe aquele cara? Aquele sentado ali, falando alto, bebendo com aqueles caras, ali na mesa da frente. Aquele com aqueles olhos pretos e cílios grandes. Não olhe agora!
Ele está vestindo aquela camisa jeans azul, meio surrada. Aquele tênis mal amarrado e aquele sorriso branquinho? Aquele ali, sentado do lado daquela garota, que parece feliz.
Olha… já fui louca por ele.
Escrevo essa carta – tipo um pedido ao Papai Noel – na esperança de que um dia ela leia.
Na verdade, queria tanto que ela soubesse o quanto ela tem sorte. O quanto ele é único.
Queria que ela soubesse dos meus sinceros desejos – não, não desejo a morte dela, o fim do caso deles ou até mesmo que o cabelo dela caia e a bunda fique mole – de vê-los felizes. Mas desejo mais ainda que ela o faça feliz. De verdade.
Espero que ela nunca esqueça das coisas que ele gosta.
Ele adora vodka e energético, gosta que o abrace bem perto do coração, quando os corpos se encaixam, sabe? Que ele adora rap, sertanejo e que ainda recebe mesada dos pais, então vocês não podem esbanjar tanta grana por aí. Ah, ele gosta de bife mal passado e odeia queijo.
Queria que ela soubesse que ele não gosta de gente mesquinha (assim como pensei que ela fosse). Não gosta de sushi. Não bebe refrigerante. Que ele adora quando lhe beijam na nuca, que sente arrepio quando falam ao pé do seu ouvido e que não tem cócegas, nem nós pés.
Ele não gosta de formalidades, não estuda, não trabalha e não sabe nada do futuro.
Queria que ela soubesse que ele adora que lhe acompanhem nas “indiadas” que ele se mete – em todos os finais de semana há um programa de índio – e que odeia gente que não sabe conviver em grupo. Outra coisa importante é que ele odeia – ou finge – mordidas, e sente frio nos pés a noite.
Ela precisa saber de tantas coisas, das quais ela terá a sorte de descobrir, nos longos anos que desejo a eles.
Que ela possa ser o que não fui.
Que nunca o engane e não suma da vida dele, nem por um minuto. Que ela não deixe de ligar quando ele estiver brabo, por aqueles motivos que ele – só ele – acha que existem. Que não o esqueça – nem em meio a outros caras mais bonitos e gostosos – não o magoe e que o ame todos os dias de todas as formas, mesmo quando ele não merecer.
Que ela nunca cometa o mesmo erro que cometi, no momento em que o deixei escapar entre os dedos, por levar a sério demais esse meu orgulho bobo.
Para que ela não tenha que repetir meus pedidos – quase ordens – em uma carta como essa, para a próxima babaca que conseguir o perder.
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