domingo, 11 de setembro de 2016

No amor ela é a Claudia.

Você já ouviu falar da Claúdia?

Falo daquela Cláudia que a Xuxa mandou sentar lá, sabe?

É mais ou menos assim que ela se sente em relação ao amor.

Aquele papo de "ela vai esperar sentada", era o papo dela, era a relação mais próxima que ela tinha com o amor, esperar por ele.

Tem gente que espera o ônibus, espera a pizza, tem gente que espera a vez no salão, espera o trem, o metrô, espera sol, tem gente que espera o final de semana, as férias, o salário no final do mês.

Tem gente que espera um abraço, espera a carona, espera notícias no hospital, espera o tempo passar, a chuva, espera o vento parrar.

Tem gente que espera - mais do que quem espera na fila do SUS - o amor, e é aí que a Cláudia entra nessa história.

Tem gente que no amor é a Cláudia.

Era o caso dela, o amor mandou ela sentar lá, esperar a vez, mas parece que aqui todo mundo fura a fila da coitada.

Até o colega que sofria e que nunca beijou, o carinha que cantava até as merendeiras do refeitório para ganhar merenda extra, aquela amiga que nunca saia com ninguém, até aquela vizinha mais rodada que saia de baiana, já levantou daquele banco, todos já levantaram, nenhum rastro deles por aqui, e ela ainda espera lá sentada.

Parece que o amor pra ela nunca chega.

Talvez ela não consiga ver o que está diante dos olhos, talvez ela não perceba aonde o amor possa estar.

Ouvi dizer que o vizinho gosta dela, que ele manda mensagens e até entrou para a academia que ela costuma visitar - porque ultimamente ela é só visitante - só pra ficar por perto.

O colega de trabalho suspira toda a vez que ela entra na sala, e não esconde de ninguém que espera ansiosamente uma chance.

O melhor amigo - aos olhos dela - torce para que ela fique carente e lhe convide novamente para aquele filme triste, em que ela vai acabar por dormir no ombro dele.

Ela não percebe, ou não quer perceber.

Talvez ela não esteja interessada, não queira que o amor chegue, talvez ficar sentada seja menos doloroso. Talvez ela tenha medo, arregou, roeu a corda. Talvez ela espere por alguém que não chegará.

Talvez goste de alguém, que como de costume não pode corresponder por motivos óbvios, como a falta de interesses, excesso de gordura abdominal, ou ela é chata demais, tem manias esquisitas.

Talvez esse alguém tenha razão, quem sabe ela mereça ficar ali, plantada feito uma árvore, ou talvez ela goste mesmo de idiotas, sei lá.




Que seja diferente

Se você parasse um segundo para observar esses casais ao seu redor, olhe quantos, todos iguais, todos felizes às vezes, tristes muitas vezes, todos andam de mãos dadas e se abraçam, e saem juntos uma ou duas vezes no mês. Brigam e fazem as pazes em 30 segundos, eles se amam de um jeito idêntico. Eles se olham, sorriem, se abraçam de novo, saem juntos, brigam de novo, ficam felizes e tristes e felizes e tristes.

Milhares de relações modernas – nem tão modernas assim - denominadas de círculos viciosos.

Cá entre nós, um desperdício de tempo, de emoção, de amor.

Todos iguaizinhos, fazem as mesmas coisas, somem do meio social e passam a viver somente de amor. Como se amor enchesse barriga (tá, espera, enche de certa forma, mas não falo disso, ok?), como se o amor exigisse tudo isso. Muito pouco né?

No caso - no meu caso digo - não quero um amor assim, eu nem sei se quero um amor.

As pessoas oferecem muito pouco na bagagem. Oferecem o mesmo que todos, não falo de casa, comida e roupa lavada. Isso a minha mãe também oferece.

Você não merece, eu não mereço, ninguém merece aquela vida de casal ali, da minha conhecida, da minha amiga, da minha vizinha. Que não tenhamos esse destino, desses clichês de vestidos brancos, casamento, festas enormes e jantares em família. Que possamos passar longe de ser aqueles casais que se dizem perfeitos, desses romances (im) perfeitos.

A noite está farta deles, a noite esta entupida de casais tentando lhe mostrar que o amor é lindo e que o amor de vocês, esse sim é especial.

Quanta bobagem, não tenho estômago pra isso. Quem disse que eu quero ser especial?

Eu sou melhor que isso. Melhor que isso tudo, e a minha grama é muito mais verde e florida que a da vizinha, nesse caso.

Poxa! Só quero ser assim, imperfeita, neurótica, louca, engraçada, estabanada, falante, cheia de manias e insuportavelmente mais macho que muito homem.

Só quero poder ser, eu sempre quis ser diferente, então me deixa. 

Sendo assim, nunca aceitei esse amor geral, esse amor igual a todos que vejo por aí, esse "eu te amo" tão normal quanto um bom dia. Desse jeito não, obrigada.

Não sou exigente. Mas ninguém merece um amor qualquer, nem eu.

O que espero é diferente de tudo isso que vocês tem aos montes, nas bancas e nas lojas, diferente de tudo que já me ofereceram, se é que você entendem, se é que alguém possa me dar.




Hoje, como de costume, visitei alguns daqueles sites de horóscopo virtual, com previsões do dia, mês e amor. Aqueles que lhe dizem que irá encontrar um grande amor - e perde-lo- que as finanças estão em una época ruim - já estiveram boas?- que você terá um mês de sorte - onde? - novamente. Parece que já decorei.

Dessa vez não foi diferente das outras, a não ser pelo fato de que a previsão dizia o seguinte:

"Você encontrará um amor antigo, que você nunca esqueceu."

Oi? Câmeras? Onde estão? Qual é?

Pensei em chorar. Em hibernar até que alguma previsão dissesse ao contrário. Pensei em ler de trás pra frente, talvez fosse uma mensagem subliminar. Sei lá.

Como assim um amor antigo? Você sabe o que é antigo?

Antigo é velho, não se usa mais, passou da moda ou não serve, já foi doado ou só ocupa um espaço indesejado...

Essas coisas que não servem para o presente. Que pelo nome já diz: presente. E ninguém merece um presente usado! Já aviso aos irmãos com essas roupas usadas, ok?

Mas que papo é esse de amor antigo que não esqueceu?

Quem foi que escreveu essa palhaçada? Walter mercado, foi você?

Pô, se o amor é antigo, deixa eu pensar. Talvez eu lembre de alguns, mas acho que já esqueci. Não? Cara, agora fiquei confusa.

Amores antigos a gente sempre tem, o fulano da padaria, aquele garoto da escola, o primeiro aquele que beijava mal, lembra? Aquele garoto do transporte. Aquele que lhe tirou tantas noites de sono. Aquele outro e aquele mais.

Mas esse papo de você encontrará um amor antigo não dá, esse papo mexe com o psicológico da gente, até porque eles não estavam falando de encontrar no mercado, na padaria ou na fruteira.

Estavam falando de encontrar - que deve estar relacionado com desastres naturais no peito, tipo ficar junto, talvez namorar e casar - e ainda de alguém que você não esqueceu. Isso é coisa demais pra uma única previsão.

Que moral tem um amor antigo que pensa que pode voltar assim, do nada, como se estivesse ido ao banheiro? Como assim? Que cara de pau é essa?

Sempre tem gente que acha que quando voltar vai encontrar tudo como deixou – chamam-se iludidos – mas as coisas dificilmente ficarão intactas por mais de um final de semana. Sabe como é, se as coisas mudam, imagine as pessoas?

Não acho justo essa de amor antigo – ainda quero descobrir quem faz essa previsão. Se fosse tão bom, teria mesmo ficado lá no passado?

Não me venha com aqueles papos de “não era a hora certa” e que agora você está mais maduro e mais disposto, agora lá existe hora certa pra gostar de alguém?

“Por favor, goste de mim semana que vem, estarei mais amável, essa semana não dá, estou um tanto nervoso e resolvendo outro lance aqui com uma loira peituda, não quero lhe magoar.”

Poxa! Não diga que realmente acredita nisso? Em hora certa, em amores antigos que retornam e viram um felizes para sempre – me julguem – mas sinceramente, não caia nessa.

Eu aqui, pensando ansiosamente na previsão do meu horóscopo, imaginando que a vida seria diferente e que surgiriam novos – lindos, gostosos, popozudos - e loucos amores, você me vem com essa de amor antigo? Não seria pedir muito por um novo? Ah, qualquer um, sei lá.

Se tem uma coisa que acredito é que amores antigos devem ficar lá onde estão, guardados naquela caixinha das lembranças boas – e ruins – que a gente abre aleatoriamente, se quiser e quando quiser, só pra não esquecer dos traços do rosto. Amores antigos são lembranças do que fomos e vivemos. Ninguém precisa apagá-las, mas também ninguém precisa revivê-las.

O que você acha de jogar na mesma fase do Mario Bros sempre? Não acha chato almoçar sempre a mesma coisa?

Deve ser mais ou menos assim voltar a um amor antigo.

Você já sabe como é, já viveu, não deu certo, e por um motivo ou outro passou. P-A-S-S-O-U.

Ninguém aqui está cuspindo no prato que comeu, não entenda mal. Mas todo mundo sabe que enquanto o velho, nesse caso antigo, não ir, o novo não virá.

E cá entre nós, todo mundo merece um amor novo e louco, se der. Todo mundo merece um novo alguém pra sentir aquele friozinho na barriga e lembrar antes de dormir, você não concorda?


Então, hoje nem pensar em horóscopo, ok? 


Eu sei que a gente combinou.


Ok, eu sei de tudo isso.

Lembro como se fosse ontem o dia em que te conheci, em meio a tantos caras estava você, quieto em um canto só observando aquela balada que estava mais pra lá do que pra cá.

Fui me aproximando - já disse que gosto de dar o primeiro passo? -, algo em você me deixava confusa, talvez o olhar, a barba, a maneira como segurava o copo ou aquele desinteresse nas garotas daquela festa.

Depois do primeiro oi, o segundo, terceiro, as jantas durante a semana, encontro com os amigos, finais de semana na praia. Ultimamente o mundo conspirava a nosso favor, ou não.
Mas vamos combinar, nada de relacionamentos, ok?

Ok. Afinal, quem aqui quer se apegar? Preferimos ser livres, né? É.

Nós combinamos isso, aqui ninguém leva nada a sério, nada de relacionamentos, é só diversão, gostamos de ficar juntos, eu te curto, tu me curte, tem química, tem pele, tem desejo, é isso aí.

Sem cobranças, sem ciúmes, sem ligações nas madrugadas, sem "te vejo amanhã", sem acordarmos juntos, nem pense em escova de dentes lá em casa. O nosso lance é meio sem querer e deve ter como despedida só um "até mais".

Nós combinamos, qualquer dia a gente se vê, te ligo quando tiver com saudade, me liga quando quiser me ver, faremos assim, ok?

Você pode fazer o que quiser, nem precisa me contar, só não vale esbanjar garotas na minha frente ok? Não precisamos nos encontrar todos os finais de semana, isso soa um relacionamento, ou seja, tudo que a gente não quer.

Não somos namorados, avise eles que teimam em nos julgar dessa forma, combinamos de não definir o que sentíamos, muito menos o que somos. Então esqueça o que eles falam, não sabem de nada. Nós sempre fomos  assim, desprendidos um do outro. Afinal, nos combinamos.

Eu sei, sei que combinamos, assumo. Se quiser escrevo uma carta, coloco um cartaz assim: “Nós dois aqui, combinamos de não gostar um do outro e assim nada de relacionamentos.”

Aí assino em baixo: Traíra que não sabe cumprir um combinado.

Não deu, juro que tentei. A culpa foi minha, escapou a saudade, não consegui controlar a vontade e meu coração desobediente fica acelerando desgovernado quando te vê.

Não estou lhe pedindo que fique comigo, que esteja pensando a mesma coisa que eu  tipo esquecer o contrato e fugir pra Califórnia - , não estou pedindo que me aceite na sua vida – mas gostaria -, que aceite minhas ligações nas madrugadas ou que fique feliz em acordar com minhas pernas sobre as suas.

Não quero que aceite essa minha loucura, afinal eu nunca gostei de alguém como estou gostando de você e isso me assusta. Me apaixonei e estraguei tudo. Desculpe.

Tudo bem, entendo se não puder mais ficar.

Afinal, foi eu quem não cumpriu com o combinado, então você pode ir. Talvez amanhã eu me arrependa por ter estragado tudo, talvez eu queira voltar atrás e não possa. Mas  se não for pra ter você em minha vida, em minha cama e em meu coração, prefiro que você vá.



Ela nunca teve medo...

Em meio a uma conversa e outra, ela disse: "Meus relacionamentos são falhos" - com a voz suave, calmamente continuou falando sobre coisas aleatórias.

Como assim? Alguém pegou o fio da meada? Ela acabou de falar que os relacionamentos dela são falhos, ferrados, fim de carreira? Isso?

Ela parece nem se preocupar, ou nem perceber muito o que diz, como assim seus relacionamentos são falhos? 

Como assim, ela está bem mesmo assim? 

É claro que está, ela sabe que vai passar por muitos papéis principais ainda, nessa novela mexicana, que é sem dúvida sua coleção de semi-relacionamentos.

Não é olhando pra ela que você vai perceber a quantidade de falhas, não é em um primeiro momento que você perceberá quanta coisa bonita existe naquele coraçãozinho de pedra, demorará um certo tempo até você saber de quantos dramas a sua vida amorosa é composta, e ela nem se importa.

Ela não se importa mais, e já sequer lembra quantas vezes sofreu, chorou, comeu aqueles inúmeros potes de sorvetes e se descabelou.

Já nem faz diferença quantas vezes ela terá que fazer as mesmas coisas, ela vai tentar, por todos os caminhos (até os tortos). 

E daí se as coisas vêm dando errado há muito tempo, e se vai ser perda de tempo de novo, ou não?

Ela nunca foi boa em autoajuda, muito menos foi otimista pra dizer que tudo daria certo. Ela nunca foi de falar em coisas que não acreditava, que não sentia. 

Mas era teimosa demais pra deixar um bando de erratas lhe causarem medo, muito menos lhe fizessem desistir de tentar, mais uma vez, e mais mil. 

Dessa vez, ela não leva uma mochila de esperanças bobas, ela só leva um sorriso e a vontade de tentar.

Ela sabia que iria tentar e errar algumas vezes, sabia que iria sofrer, mas em um desses caminhos – errados - ela ouviu uma frase, de um autor que ela desconhece, infelizmente, que dizia mais ou menos assim:

“Você não pode escolher se vai sofrer ou não, mas pode escolher por quem vai sofrer”.

Desde lá ela decidiu ir em frente, afinal ela nunca teve medo de assumir as consequências de suas escolhas.