Você já ouviu falar da Claúdia?
Falo daquela Cláudia que a Xuxa mandou sentar lá, sabe?
É mais ou menos assim que ela se sente em relação ao amor.
Aquele papo de "ela vai esperar sentada", era o papo dela, era a relação mais próxima que ela tinha com o amor, esperar por ele.
Tem gente que espera o ônibus, espera a pizza, tem gente que espera a vez no salão, espera o trem, o metrô, espera sol, tem gente que espera o final de semana, as férias, o salário no final do mês.
Tem gente que espera um abraço, espera a carona, espera notícias no hospital, espera o tempo passar, a chuva, espera o vento parrar.
Tem gente que espera - mais do que quem espera na fila do SUS - o amor, e é aí que a Cláudia entra nessa história.
Tem gente que no amor é a Cláudia.
Era o caso dela, o amor mandou ela sentar lá, esperar a vez, mas parece que aqui todo mundo fura a fila da coitada.
Até o colega que sofria e que nunca beijou, o carinha que cantava até as merendeiras do refeitório para ganhar merenda extra, aquela amiga que nunca saia com ninguém, até aquela vizinha mais rodada que saia de baiana, já levantou daquele banco, todos já levantaram, nenhum rastro deles por aqui, e ela ainda espera lá sentada.
Parece que o amor pra ela nunca chega.
Talvez ela não consiga ver o que está diante dos olhos, talvez ela não perceba aonde o amor possa estar.
Ouvi dizer que o vizinho gosta dela, que ele manda mensagens e até entrou para a academia que ela costuma visitar - porque ultimamente ela é só visitante - só pra ficar por perto.
O colega de trabalho suspira toda a vez que ela entra na sala, e não esconde de ninguém que espera ansiosamente uma chance.
O melhor amigo - aos olhos dela - torce para que ela fique carente e lhe convide novamente para aquele filme triste, em que ela vai acabar por dormir no ombro dele.
Ela não percebe, ou não quer perceber.
Talvez ela não esteja interessada, não queira que o amor chegue, talvez ficar sentada seja menos doloroso. Talvez ela tenha medo, arregou, roeu a corda. Talvez ela espere por alguém que não chegará.
Talvez goste de alguém, que como de costume não pode corresponder por motivos óbvios, como a falta de interesses, excesso de gordura abdominal, ou ela é chata demais, tem manias esquisitas.
Talvez esse alguém tenha razão, quem sabe ela mereça ficar ali, plantada feito uma árvore, ou talvez ela goste mesmo de idiotas, sei lá.
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