E depois de tantos meses, ela ainda falava dele, do jeito, dos olhos dele e de como ele não era capaz de enxergar o que era tão claro. Será que um oftalmologista resolveria?
De como ele parecia um idiota, perdido em meio a tantas indiretas e até desenhos para melhor visualização. Aquela altura, nem mímica. Ele parecia sequer conhecer imagem e ação.
Cansada de falar, de gritar e de demonstrar, ela até desenhou com algumas tintas néon na testa dele, mas parecia mais fácil mostrar beleza aos cegos.
Não havia mais opção, nem mandinga braba, nem costurar o nome dele na boca do sapo, colocar o nome daquela garota na geladeira, para esfriar o romance deles, nem pedir ao São Longuinho pra achar o óculos, que ele deveria ter perdido, pra não enxergar o que todo mundo via.
Então ela rezou, pediu para a estrela cadente pela terceira vez, cruzou os dedos e até passou a acreditar em milagres e final feliz, vai que né?
Desejou que ele a percebesse, que não tivesse medo do incerto, e que de preferência não tivesse medo dela, nem do que os dois poderiam ser, juntos. Desejou que ele não a iludisse, mas que sentisse aquele apreço de antes, que tudo voltasse a ser como foi aquele dia, aquele dia em que "sem querer" eles se beijaram.
Desejou profundamente que ele percebesse que estava errado, que eles seriam mais felizes juntos, tipo Eduardo e Mônica, sabe? Ela desejou tanto, pediu tanto às estrelas cadentes, que havia uma coleção delas nas suas anotações.
Então, sem sucesso, sem ajuda dos orixás, das estrelas, ou mesmo dos dedos, que já estavam colados de tanto tempo cruzados, e nada acontecia, ela apagou o número dele, excluiu do Instagram, do Facebook, bloqueou no whatsapp, de tudo que era possível excluir, já do coração…né?
Decidida, ela prometeu esquecer, sumir, deixar pra lá, afinal, ele nem se importaria. Mas decidiu esquecer pra sempre - aquele pra sempre que dura muito tempo, sabe? -, até mudar de decisão quando ele aparecia das cinzas, do nada, aquela fênix vacilona, que infelizmente não foi para a panela, galinha maldita!
Nessas e outras, quando ele aparecia sem ser convidado, ela ficava sem ação, perdida nos muitos goles de bebida que teimavam em deixá-la tão mulherzinha.
Ele não ia embora nunca, mas também não ficava.
Ele não ia embora nunca, mas também não ficava.
As amigas tentavam devolver o amor próprio dela em três boys novos, três tequilas,três “tinderianos” gatos, três dias na Praia do Rosa, mas nada adiantava, nada apagava aquele, nada apagava aquilo.
Sim, aquilo mesmo, está certo. Ninguém sabia ao certo o que era, nem ela, mas sabiam que não era amor, o amor poderia ser aquilo, não mesmo, o amor deveria ser uma parada bem mais legal.
Talvez fosse orgulho, medo da perda, vontade de colocar na estante e guardar em uma caixinha aquele amor de pingue-pongue que viveram.
De uns tempos pra cá estava tão cansada desse vai e vem que não tem volta, que não adiantava mais bater na mesma tecla, o “enter” do teclado já estava quebrado de tanto apertar. Existiam ainda tantas teclas, e que enquanto ela não apertar aquele “delete” e deixar tudo apagar, ela continuaria ali.
Cá entre nós, nem ela, nem ninguém merece ficar ali, sem saber se vai ou se fica, se pode ou não pode, se pega na mão ou solta de vez, sem saber se chora, se sorri, ninguém merece ficar sem saber se está no lugar certo, se deve esperar ou se pode seguir, e muito menos merece ficar presa a quem de fato, nunca quis se prender a ela.
Aquilo não era amor, não da parte dele, nunca foi, pelo pouco que ela conhecia do amor, o amor era uma parada mais legal.
Por sorte, o “enter” quebrou, então ela deletou.
Aquilo não era amor, não da parte dele, nunca foi, pelo pouco que ela conhecia do amor, o amor era uma parada mais legal.
Por sorte, o “enter” quebrou, então ela deletou.
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