Encontrei aquela caixa, aquela onde guardo as fotos, cartas, cartões e ingressos de shows.
Olhando para ela, lembrei de nós. Por favor, não me julgue, foi inevitável.
Olhando tantas recordações, tantos detalhes de uma história que não deu certo, parece que foi há tanto tempo, em uma outra vida. Em uma época onde as pessoas viviam felizes para sempre, ao menos é o que eu lia nos livros.
Uma época onde heróis destemidos venciam grandes guerras e não desistiam quando perdiam uma batalha.
Uma época onde os filmes eram românticos, com beijos apaixonados, em preto e branco e o colorido se dava pela profundidade do sentimento.
Mesmo as cartas estando amareladas, as fotos não metem, não foi há tanto tempo assim. Até alguns caras com a barba para fazer, olhos verdes nas festas ainda me fazem lembrar de você.
Dentro do meu livro favorito ainda tem aquela flor que me deu de aniversário - provavelmente colhida de um canteiro qualquer, mas era absurdamente linda. Estranho. Pensei que ela se despedaçaria no momento em que você foi embora.
Mas nem o relógio parou, nem os dias, os meses e os anos. As estações mudaram, os programas de TV continuaram tediosos no domingo.
A vida continuou e eu fiquei. Fiquei aqui, esperando. Esperando o tempo curar. Confesso, ele não fez um bom trabalho.
Sabe, por mais que as pessoas digam que se importam, elas não se importam. Foi preciso enfrentar sozinha.
Mas não consegui ser forte o tempo inteiro, me permiti chorar e afogar as mágoas em algum copo de bebida. Porque ninguém melhor que eu sabia o que eu estava sentindo.
Pode não ter parecido, mas eu tentei reagir da melhor maneira possível. Eu apaguei as mensagens, os registros, o seu número, mas eu ainda tenho as nossas fotos no computar.
Não nos demos o trabalho de devolver os pertences um do outro. Na minha casa ainda tem coisas suas, como tem minhas na sua. E a gente sabe que elas jamais serão trocadas.
Elas foram esquecidas, naquela gaveta, que vez ou outra abrimos.
Ouvi dizer por aí que a nossa história não foi resolvida, que a sua família ainda fala de mim.
Que você tem um novo alguém, uma pessoa para dividir todos os sonhos que um dia desejamos para nós.
Ouvi por aí que você está feliz, que não pensa mais em mim com tanta frequência. E eu me pergunto se você também esconde o que sente, se ainda lembra de mim ou se realmente superou.
Confesso, de forma egoísta, que saber que está tudo bem dói, é como se a nossa história não tivesse valido nada e que a minha dor tenha abafado a sua. É como se eu sempre tivesse amado sozinha. Então, espero que não tenha jogado fora os meus cartões e os chicletes que colei na sua escrivaninha. Nem que tenha esquecido o meu café e a minha lasanha.
Enfim, vou continuar a arrumar essa caixa, e ela está uma bagunça. Chegou a hora de colocar o que restou do amor no seu lugar, guardar as fotos em plásticos, os bilhetes em envelopes (tenho esperança de preservar - ao menos o que vivemos - do tempo). Você bem sabe, sempre me encontrei na bagunça, tenho receio de guardar isso tudo e nunca mais encontrar.
Mas eu acredito no tempo, nas coisas boas do mundo.
Acredito no amor e nas suas várias formas.
Mesmo parecendo clichê, queria que soubesse que dentro desta caixa está a história mais linda que eu vivi.
E ela foi com você. Você é o meu passado e foi o meu presente.
É, você foi. Mas não voltou.
Por Francieli Rech
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