segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Antes embriagada.

Depois dele, ela passou a frequentar novos lugares, procurando alguma razão ou sentido as coisas que estavam tão sem graça, desde aquele dia - há algum tempo atrás - quando ele se foi. 

Parece um ano preto e branco. Não vendem mais aquela caixa de lápis de cor de 36 cores, caso queria dar uma colorida nesse tempo?

Como as coisas não mudavam, ela resolveu mudar.

Primeiro o cabelo, entrou na dieta, trocou algumas bebidas por bebidas mais fortes. Buscava qualquer coisa que lhe causasse amnésia, causasse coragem, qualquer coisa, menos lembranças dele.

Enchia o copo, a cara, enchia o coração de desconhecidos de boa aparência, no fim, enchia o saco.

Nos finais de semana, passava horas decidindo a roupa perfeita e como reagiria se o encontrasse em qualquer metro quadrado daquela festa, como disfarçaria e como entraria em acordo com sua razão, para tentar ao menos resistir a aqueles olhos castanhos.

Vez em quando ela não conseguia, vez em quando ela lembrava que esteve com ele na noite anterior - como assim? - lembranças vagas e turvas. Pelo jeito, novamente ela não resistiu, e o pior, nem lembra.


Ultimamente ela andava bebendo demais, diziam por aí, mas e daí, ela andava amando demais também, e ninguém falava nada!

Dizem que tudo em excesso faz mal.

Aliás, e as lembranças em excesso? 

Fada do dente, Valter Mercado, Santo Antônio, ajudem, a moça só queria esquecer. Como faz?

Em todas as coisas um pouco dele, em cada rosto, cada olhar, em cada minuto, no fundo do copo, sempre ele.

Então, ela afogava as mágoas, afogava as lembranças dele no fundo daquele copo, afinal, antes embriagada do que iludida. Mas no dia seguinte, os dois.


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