sexta-feira, 21 de julho de 2017

Sobre o amor

Um dedo destroncado. Uma bolha no pé. Uma mordida na língua. Uma batida de cotovelo na quina da mesa. Um corte entre os dedos com papel. Um soco no nariz. 
Cólica. Enxaqueca das brabas. Esmagar o dedo na porta. Queimar no fogão. Cair de bicicleta. Bater o mindinho. Álcool no machucado. Shampoo nos olhos. O amor não deveria ser comparado a isso.
Que horror! O amor não é tudo isso não, em alguns casos é bem pior. Acredite.
Essa foi a discussão daquele dia entre elas, quando realmente -pela vigésima vez – assumiram que estavam enganado uma a outra e o pior, estavam tentando esconder delas mesmas o que era tão claro. Não lembro ao certo há quanto tempo elas não falavam deles.
Acho, que desde aquela vez que decidiram esquecer (aparentemente) aqueles caras de nomes iguais, tão diferentes e com a única coisa em comum -indesejada do c*@#!% – entre eles: o fato de não quererem elas.
Por muito tempo elas passaram a vez, viraram a página, trocaram o livro, mandaram pra doação, enterraram aquela história que já não servia mais.
Em alguns dias nublados elas procuraram em todas as bibliotecas, desesperadas feito loucas varridas, aquele livro de capa dura – nem tanto quanto os corações delas desde então – com aquelas histórias nem tão amorosas assim, que elas haviam esquecido há algum tempo.
Talvez elas procurassem somente reviver mais um pouquinho aquele conto – que era tão encantado – e reler alguns capítulos que foram esquecidos entre tantas rasuras. Mas por sorte (ou não) não o encontraram.
Hoje ao observá-las, não tive pena nenhuma. Fiquei observando, enquanto elas falavam e desdenhavam do amor, com todo aquele jeito de quem domina o assunto sabe?
Elas pareciam tão certas, tão leves, tão certas de suas ideologias. Elas tinham total convicção de que o amor tinha sido “mal, muito mal” com elas e nem por isso elas estavam chorando e gritando aos sete ventos um “eu nunca mais vou amar”. Ao contrário, elas riam, achavam graça de tudo que aconteceu. Que meninas doidas!
Elas nunca pensaram em fugir. "Deus me livre evacuar e fugir da guerra, – até porque guerras lembram homens e homens sem camisa ainda – sem lutar", uma delas repetia eufórica.
Elas sabem muito bem que vão amar – 32 vezes – de novo e até querem, mas elas apenas gargalhavam daquela desgraça toda – tão comum no caso delas – e tentavam definir o que o amor tinha sido pra elas em poucas palavras. Elas sabiam que doía e pronto. Mas um monte de coisa legal dói, e daí?
Sabiam que o amor não vinha com advertências – mesmo quando acreditavam que, sinceramente, ele deveria vir com aquela tarja preta de perigoso, mantenha fora do alcance de crianças – elas sabiam que não teriam informações dos riscos que poderiam ocorrer durante o uso, nem advertências como: vem com doses de sofrimento, desculpas esfarrapadas, pode causar tonturas e lágrimas se muito perto dos olhos.
Elas sabiam que o amor era pra quem tinha coragem e isso elas tinham de sobra. 
No fundo a gente sabe que amor é ida e volta – mesmo tendo mais idas do que voltas, até porque se foi que não volte né? -, a gente sabe que o amor é chegada, mas também é partida. Hoje dá, amanhã não dá. Hoje a gente fica, amanhã sei lá. Não faz pergunta difícil, tá?
Em alguns instantes pensei em contar pra elas que o amor não era aquela desgraça toda. Contar que elas tinham tudo para estarem com um cara legal, mas que viviam perdendo tempo – e lágrimas – com os caras errados. Mas isso, lá no fundo, elas já deveriam saber.
Afinal, dizem que é típico, antes de encontrar o cara certo, perder algum tempo (a linha, as roupas, a hora e a dignidade) com caras errados. Então, elas que estavam certas... e você o que está esperando?

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