sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sobre aquela história que não é minha



Como de costume, em todas as quintas-feiras a gente se reunia naquele bar, pra contar as novidades da semana corrida e contar os casos desamorosos nos quais acabamos por nos "meter" naquela semana, entre um intervalo e outro.

Mal poderia esperar para que aquele dia chegasse, regado a gargalhadas e histórias mal contadas, em cada uma havia alguma situação em que quase todas se identificavam. Uma em especial, me chamou atenção, ela não era uma história convencional, não acontecia todos os dias - não com as pessoas as quais eu me encontrava nas quintas feiras - não era a historia de uma amiga, era de um amigo.

Era algo sobre uma relação que ele manteve com uma garota, ela era um pouco mais velha, e tinha nos olhos um ar de mistério. Era linda, inteligente e encantadora, até ele, que nunca se encantava se encantou.

O relacionamento deles era a distância, mas parecia nunca haver distância suficiente para separar aqueles corações apaixonados. Era perfeito. Até que deixou de ser.

Não, eles não terminaram - até porque como terminar o que nunca começou? - por brigarem demais, nem por não se suportarem mais, eles brigaram porque gostavam demais, tanto que ela não poderia.

Ele não entendeu. Ela então explicou. Ela estava gostando demais, coisa que ela já havia prometido ao namorado.

Namorado? Quem tem namorado aqui? Ela? Ela tinha namorado esse tempo todo?

Mas e os finais de semana juntos? Mas e o que ela disse semana passada? E aquele gosto muito de você, o te amo? E aquela parte que eles ficariam juntos e que nunca mentiriam um para o outro? Será que ela cruzou os dedos?

Foram tantos mas que, ele entendeu. Ela havia sido tudo que prometeu que nunca seria. Mas as vezes a gente se engana com as pessoas. Acontece e aconteceu com ele.

Quando escutei aquela história, não tive muitas reações, ninguém teve. Só pensei - em letra caixa alta e neon - quem é essa VACA?

Como assim ela fez uma palhaça dessas? Poxa! Será que ela sabia que ele tinha um coração?

Será que ela o conhecia o suficiente pra saber que ele não merecia passar por isso? Ela já pensou no quanto partiu o coração dele?

Não sei os motivos dela, sinceramente nem me interessam. Mas ali, naquela quinta-feira, aquela vaca ganhou mais uma mesa cheia de inimigas.

A mesa inteira pode não valer um real, poderia ser até o sujo falando do mal lavado. Certamente a mesa toda multiplicada por dois não daria um coração inteiro, mas a mesa toda concordava que por mais que a gente não saiba exatamente o que sente, a gente não deve enganar ninguém, nem por um minuto.

A garota já deve ter esquecido do tamanho do estrago que causou, afinal quem bate sempre esquece. Mas ele ainda não consegue falar do assunto sem sentir aquele aperto no peito. Ele não esqueceu do quanto apanhou quando levou aquele "stage fatality" no relacionamento. Mas um dia ele esquece.

Sei que conselho se fosse bom a gente vendia né?

Mas ninguém merece viver de mentiras.

A gente passa a vida toda procurando por alguém - não estou procurando, ok? - pra andar de mãos dadas e esquentar os pés no frio do inverno. A gente tenta ser alguém melhor a vida toda pra surpreender alguém, antes mesmo de nos surpreendermos. É aí que está o erro.

Acreditamos em amores verdadeiros, mesmo quando gritamos aos sete ventos que não queremos saber de ninguém - pura mentira - e que ninguém poderá controlar a nossa liberdade.

Nos envolvemos, nos entregamos, amamos profundamente, mas nem sempre acertamos.

Conforme a margem de erro, existem mais corações partidos do que ao contrário, mas ninguém disse que não existem milhares de pessoas capazes de concertá-los, disse? Vale cola, super bonder e até chiclete, quando se tem sinceras intenções.

Então, nunca fui boa conselheira, e naquela altura do campeonato eu não tinha muito a fazer para minimizar aquela dor que ele sentia - a não ser encontrar aquela vaca e dar umas boas palmadas -, mas poderia vender a ele um conselho dos bons, que dizia mais ou menos assim:

"Acredite, isso tudo vai passar, demora, mas vai passar. Um dia você vai acordar e a primeira lembrança que vier a sua cabeça não será mais a dela. Nesse dia as coisas estão começando a voltar para seu devido lugar."

E não é que ele comprou?

Pagou à vista com um sorriso. O mais lindo que já vi.




quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Não sei porque


Hoje quando acordei, em meio a aquela bagunça acumulada de uma semana de noites mal dormidas, encontrei uma foto nossa jogada no chão.

Observando aquela foto por instantes, viajei pro dia em que a gente se conheceu, relembrando cada encontro, nos mínimos detalhes, e deixando escapar sorrisos incontroláveis, acompanhados de suspiros. 

Incrível era o efeito do seu sorriso em mim, aquele que se fosse utilizado em uma guerra desarmaria o inimigo, aquele que transparecia todo aquele seu coração cheio de dúvidas e meias certezas. 

No meio das lembranças, aquela do dia em que ele fechou a porta e disse: Se cuida!

Não sei porque diabos ainda me preocupo com você.

Porque ainda guardo o canto do bolo, o último pedaço do chocolate, a garrafa daquela cerveja importada que você coleciona. 

Não sei, mas ainda passo naquela esquina no mesmo horário, na esperança de ver você passar, ainda lembro de você quando como torta de chocolate e ainda lembro o nome da sua bebida preferida.

Porque ainda escuto as mesmas músicas, uso aquela camiseta surrada que você esqueceu. Frequento os mesmos lugares. Ainda deito do outro lado da cama, esperando que você volte a ocupar o seu, mesmo já fazendo alguns muitos meses que você se foi. 

Ainda tenho problemas com a ré, não aprendi a estacionar o carro e guardo suas meias e cuecas naquela gaveta de cima, aquela que eu odiava ter que compartilhar. Aquelas fotos ainda estão na estante, a sua carta ainda fica na cabeceira, ainda frequento suas redes sociais e ligo aleatoriamente pra dizer que sinto saudade, mesmo jurando que foi engano.

Eu sei, mas espero aquele convite do jantar, aquela ligação quando chegasse em casa, ainda espero que entre por aquela porta, dizendo que aquele  "se cuida" estava equivocado e que voltou pra me cuidar.

Não sei porque ainda rego esperanças quase secas no meio desse deserto, deposito toda a minha fé na sua volta, que parece tão improvável. 

Não sei porque não me disponho a te esquecer, não sei, mas insisto em insistir em você.